Por trás das lentes: Saiba como foi fotografar o ALL MOUNTAIN FESTIVAL!

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Diego Knobb descendo o Cruzeiro
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O trabalho com fotografia out-door sempre traz situações inusitadas. Recentemente estive em Sta.Maria Madalena, na serra do RJ, cobrindo o All Mountain Festival, evento do Rodrigo Lima que reuniu dezenas de bikers do Enduro e Downhill (modalidades extremas do ciclismo) para 2 dias de exploratórias nas matas do Parque Estadual do Desengano. A coisa foi táo intensa que resolvi relatar a experiência aqui, com dicas fotográficas importantes para este tipo de trabalho.

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Cabeçada reunida no alto do morro do Cruzeiro

O evento

O All Mountain Festival não é uma competição, mas um encontro de bikers dispostos a encarar situações mais severas no ambiente natural, porém com organização e segurança típicas de eventos competitivos. O objetivo? Cruzar dezenas de km pelas montanhas de Madalena com bikes especiais em 2 dias, com destaque para a travessia do P.E. do Desengano por uma trilha fechada e selvagem de 12km, um pequeno porém precioso trecho do percurso do 2º dia.

À noite, festa, amigos, cerveja, restaurantes e rock na praça central de Madalena, uma jóia nas montanhas do RJ. O evento reuniu bikers também especializados, acostumados às modalidades extremas como o Downhill e Bike Enduro. Estava formado o cenário!

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Subindo o Cruzeiro. Só empurrando mesmo...

O trajeto

No 1º dia andamos por perto da cidade, subindo e descendo o Cruzeiro e daí partindo para áreas mais remotas. O desafio estava na dificuldade imposta pelas trilhas, selecionadas a dedo pelo Rodrigo e seu responsável técnico no evento, o Diego Knobb. No segundo dia, a coisa ficou bem mais cascuda: O P.E.do Desengano nos esperava, e com ele um clima terrivel. Na noite anterior a chuva caiu pesada, e continuou no dia seguinte. Mas ninguém desistiu, e a caravana partiu assim mesmo.

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Devo dizer que estas experiências duras me fascinam, pois gosto mesmo de situações como essa. Fotografar nestas condições me coloca à prova, bem como ao equipamento que escolho usar, sem falar no comportamento profissional. É nesses lugares que eu cresço. De repente lá estava eu, dentro da mata fechada, chuva torrencial quebrando galhos, tudo molhado, lama dos pés à cabeça, fotografia no extremo e um sorriso gigante cravado na cara. Este é meu playground, escola e templo ao mesmo tempo! Mais vivo, impossível!

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O equipamento

Bem, há tempos que eu prefiro andar leve, ainda mais quando sei que as condições de trabalho serão exigentes. Dentro do parque atravessei a pé uma trilha de 12km, muitos deles debaixo de muita chuva, então, a escolha do equipo foi crucial. Para o primeiro dia tudo foi mais tranquilo, pois os acessos eram fáceis. Mas confesso que exagerei um pouco, pois por outro lado não queria perder nenhuma oportunidade de imagem. Então, meu set-up ficou definido assim:

- Câmeras: Nikon D800 e D610 (D3200 como reserva)
- Lentes: Tamron 70-200 2.8, Nikkor 24-70 2.8, Sigma 10-20 4-5.6 e Sigma 15mm FishEye.
- Flash: Nikon SB910 + 3 sets de baterias Fujitsu Premium
- Filtros: nenhum
- Mochila: LowePro Flipside 300 + capa de chuva da Lowepro Flipside 500.

Parece muito, mas consegui compactar tudo isso na Lowe, pequena e indestrutível companheira de muitos e muitos jobs fotográficos bem distantes dos tais "confortos sociais". Por causa do volume e peso, deixei alguns monstrinhos em casa, como a Sigma 50-500, a Nikkor 14-24 e tripés. Então, para meus parâmetros, estava leve, mesmo levando 3 cameras.

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A logística

No primeiro dia, tudo ok. Fiz o trajeto de carro acompanhando os bikers, exceto em um trecho de uns 4km trilha adentro onde fui a pé. Deu para usar todo o material. Já no dia seguinte, tudo mudou.

Com a chuva, e com a certeza de estar 100% do tempo em mata fechada, resolvi deixar 90% do material na cidade. Levei apenas a D800, a Sigma 10-20, a Sigma 15mm e o flash. A 70-200 seria inútil. Foi uma loteria, mas acertei! Andar sob chuva torrencial durante quilômetros na Mata Atlântica fechada e preservada do Desengano não é nada tranquilo! Vocês não tem ideia do barulhão medonho que faz a chuva no dossel da floresta!!!

Muita água, muita lama, sobe e desce mata adentro, roupas encharcadas, mas o equipo estava leve, bem protegido e pequeno! Foi a salvação! Enquanto os riders passavam, fotos e mais fotos naquela luz e cores, aquele momento!!! Incrível, é onde eu renasço! Faria tudo de novo 100 vezes. Quanto ao equipo, resposta 110% positiva! É um material duro na queda, como o povo que fotografo. Respeito!

A mensagem

O objetivo nas imagens era evocar a conexão entre ciclistas e montanha, num resgate da essência do Mountain Bike. Eu precisava criar também o senso de aventura, vital para a promoção do evento e para indicar a natureza do All Mountain, uma modalidade muito integrada às trilhas mais remotas e duras nas montanhas.

Escolhi o uso de ângulos baixos e lentes grande-angulares para captar as belezas cênicas. Na edição, cores um pouco mais saturadas (a luz estava naquela onda "overcast"...) e algumas reduções nos efeitos exagerados da 15mm Fisheye, para não cansar os olhos do púbico.

Na fotometria, a luz difusa ajudou, mas a baixa intensidade na mata foi complicada. Tive que usar a combinação delicada "flash levinho + ISO alto" em algumas situações. Nada fácil, entram uns cálculos, sabe? Sem saber dos "paranauês", desanda tudo. De vez em quando, close da ação. No resto, meus enquadramentos e estilo gráfico, e pronto. Tá feito!

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O apoio

Sem a ajuda de gente competente, nada sai. Em trabalhos delicados de fotografia, a estrutura de apoio é fundamental, e nem sempre se relaciona à fotografia diretamente. Neste caso, sem o expertise de gente como o guarda-parque Samir Mansur e o biker Diego Knobb, nada disso poderia acontecer. A segurança e suporte que o Samir me deu na mata foi determinante, com seu enorme conhecimento do terreno. Suas sugestões de timing para estar nos tempos e lugares certos, onde sairiam as melhores fotos, foram precisas. Na hora do aperto da chuva pesada, sua tranquilidade nos guiou pela trilha enlameada com maestria.

Quanto ao Knobb, não há o que falar. Campeão Brasileiro de Downhill e Enduro, respeitado na cena do ciclismo extremo, dispensa comentários. Que sorte ter esses caras ao meu lado! O resultado nas fotos e no sucesso do evento é a soma de tanta gente rara envolvida.

Agradeço ao Rodrigo Lima pela confiança em mais um belo trabalho, e que venham muitos outros. Fica também a enorme gratidão ao Marcus Bueno, da querida cervejaria Buzzi (putz, o homem faz CERVEJA!!! Precisa dizer mais???), que nos brindou o tempo todo com suas criações artesanais de malte e lúpulo, além do pouso em sua casa! Fotografar profissionalmente assim, no meio dessa vibe e desse povo, mesmo sob chuva e lama, é um verdadeiro presente. Sou grato todo o tempo! Quando é a próxima?

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