Canon versus Nikon, o que pensar disso?

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Em meus cursos sempre me apresentam esta dúvida, vinda de alunos que estão iniciando e procuram por um equipamento que lhes dê o melhor pelo que podem - ou querem - pagar. Nada mais natural e lógico, afinal, estão buscando orientação. Essas pessoas não querem investir errado, e desejam ingressar na fotografia devidamente amparados por uma boa decisão de compra. Escolhi Nikon por algumas razões pessoais, mas entendo e declaro que qualquer marca satisfaria minha necessidade por expressão.

Mas há um cenário muito estranho presente na periferia dessa maravilhosa arte que é a fotografia. Frequentemente vejo esta mesma questão sendo debatida calorosamente por muitos outros aficcionados, muitos já praticantes de longa data, principalmente em fóruns na internet. Cada um defende religiosamente sua marca de escolha, como se fossem grandes chefes de engenharia das fábricas, declarando que é a melhor por causa disso ou daquilo.

Não satisfeitos, ainda acham argumentos que "provam" que o concorrente é muito pior, e quem usa tal equipamento simplesmente não sabe fotografar e "pagará por isso no fogo do inferno". Pior ainda é quando argumentam que alguém não pode ser bom se não usar este ou aquele equipamento.

Que pena, foram pegos pelos marketeiros. Não são fotógrafos, são apenas donos de câmeras.

Gosto de pensar que estes não fazem parte do fantástico turbilhão que é a fotografia que, como um tornado, sacode tudo por onde passa desenterrando e exibindo coisas que estavam escondidas da visão congelada das pessoas comuns.

Estes "especialistas" estão vagando naquelas nuvens lerdas das bordas do tornado, simplesmente circundando sem nada interferir na ação que realmente ocorre no miolo da arte. Estes se renderam ao apelo do marketing. Esquecem de usar bem o que possuem e perdem muito tempo elevando seus equipamentos à um status superior ao próprio ofício, à própria imagem, à própria expressão e fluxo de ideias.

De vez em quando afirmo, seja para um aluno ou à qualquer pessoa, que o que vale é o uso que se faz daquilo que possui. É claro que determinados recursos presentes em equipamentos mais evoluídos permitem que extremos da fotografia sejam alcançados, ou que determinados trabalhos profissionais possam ser realizados, mas isso não corresponde à maioria dos fotógrafos que está por aí, principalmente porque essa massa é formada quase totalmente de diletantes.

Essa massa não precisa, a princípio, de máquinas melhores do que aquilo que já possuem. Precisam, sim, é de usar melhor aquilo que possuem. Seja Canon ou Nikon ou Sony ou Pentax ou qualquer coisa. Precisam de bom conhecimento, precisam aprender a colocar a assinatura pessoal em suas imagens, precisam aprender a fotografar sem a câmera (opa, como assim???), precisam conceituar e visualizar situações, luzes e cenários na mente antes do clic. Resumindo, precisam aprender a fotografar.
Sim, porque classificar o equipamento, ler reviews de sites e apertar botões muitos certamente já sabem. Agora, só falta o principal: fotografar. E é bom que se faça isso em silêncio, longe do falatório e perto da sensibilidade. E isso já é bastante difícil...

Uma imagem bela, comunicativa e relevante pode surgir do mais simples equipamento, mas não surgirá da mente que não imagina, não surgirá dos olhos que não enxergam. Este equipamento, por mais simples que seja, precisa de alguém que entenda as malandragens visuais da fotografia e que tenha o que dizer com sua imagem. Para este iluminado indivíduo não faz a menor diferença o número de zeros à direita impressos na etiqueta de preço da sua câmera. Para ele, não faz diferença se é Canon ou Nikon.

A essência da imagem é tudo, e deve ser precedida por uma busca sublime. Grandes fotógrafos não precisam das melhores câmeras, e sim do espírito livre e da percepção sintonizada com suas propostas comunicativas e criativas. Eventualmente, podem até necessitar de equipamentos que ofereçam mais recursos. Porém, isso só ocorrerá quando sua busca pela imagem EXIGIR mais recursos. Ou seja, a imagem é soberana, vem antes da necessidade de registrá-la e não abre mão do desenvolvimento escalar do autor.

Então, quando você se encontrar em frente a um destes improdutivos debates sobre Canon versus Nikon, dê as costas, pense em uma grande cena e vá atrás dela. Não discuta Canon e Nikon, discuta Robert e Cornell Capa, Sebastião Salgado, Cartier-Bresson, Kevin Carter, Ansel Adams, Susan Sontag, Elliot Erwitt, Thomas Marrent, Didier Lefevre, Graham Watson e tantas outras fontes saudáveis.

Grande abraço e boas fotos!

Hudson Malta





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