Making-of: Desenhando Mário Mico

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Aqui no estúdio tenho envolvimento com diversas artes, não apenas a fotografia. A ilustração está presente em minha vida desde sempre, e sempre correu em paralelo com tudo que já fiz. Fico feliz em dizer que meu desenho, junto à minha música, ensinou a minha fotografia a ser mais eloquente. Neste artigo trarei a vocês alguns dos processos criativos que usei para desenvolver os traços do Mário Mico, figura central do livro "As Aventuras de Mario Mico", de autoria do grande amigo Fernando Mello, lançado em outubro/2013.


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Apresentando o Mário

Mário Mico é um personagem que nasceu duas vezes, como letra e como tinta. Fruto da mente privilegiada do músico e escritor Fernando Mello, suas aventuras são narradas no livro "As Aventuras de Mario Mico", que traz uma coletânea de histórias reais ocorridas com o autor e seus amigos durante alguns momentos curiosos ou importantes das suas vidas.

Repleto de dramas, aventuras e desventuras, mas escrito sempre com muito humor e sensibilidade, o livro gira em torno do personagem Mário Mico, um grande camarada que empresta sua identidade aos personagens reais de cada história.

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Ele transita entre o fictício da sua existência e o realismo dissonante das suas (ou dos outros...) andanças. Perfeitamente criado para personificar todas as personalidades presentes nas histórias, o Mario Mico se mostra como herói e anti-herói, um malandro bom moço por quem não conseguimos deixar de torcer a favor. O livro, mesmo tratando de acontecimentos tão diversos, consegue estabelecer um padrão de comportamento na construção literária dessa grande figura, nos convencendo do seu jeito de pensar e de ver o mundo. O leitor, inevitavelmente, recebe com prazer os momentos "históricos" dessa saudável e convincente criatura, mesmo sob a aparente bizarrice dos seus *causos".

Pois bem, recebi do Fernando a tarefa de personificar o Mário Mico e ilustrar cada uma das 17 histórias do livro. Tarefa agradabilíssima, mas de grande responsabilidade. Vejam como foi.

Construção do personagem gráfico

Para criar o Mario Mico, precisei entender que ele representa uma mistura, mas que se concentra num brasileiro solto, "safo" e entregue aos revéses e recompensas de uma vida que, se não dura, com certeza é pra lá de interessante. Precisei dar à ele traços de um cara comum, porém único. Escolhi um semblante magro, de jeito mulato, nariz achatado e cabelo crespo. Com um estilo cartoon, estava ali um brasileiro.

Os traços

Nos traços, decidi por usar uma das combinações que mais curto: papéis pesados, bico-de-pena de aço e tinta nanquim preta. Isso é a minha cara, e para ilustrar o Mário, não poderia ser diferente pois, de certa forma, ele também me representa (ou a nós todos). A variação de fino-grosso que o bico-de-pena deixa nas linhas me garantiria a soltura e liberdade de traços exigida pelo personagem. Também escolhi por não criar detalhes muito rebuscados, deixando algumas linhas abertas ou mesmo inexistentes. Algumas áreas ficaram até mesmo toscas, mas de maneira, digamos, elegante. Afinal, assim é o Mário.

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O movimento

Decidi que a dinâmica de movimentos do Mário envolveria grandes amplitudes, que fariam um bom reforço à sua personalidade expansiva. Seus movimentos são exagerados, abertos, irreais, como os personagens non-sense de alguns autores de quadrinhos. Com isso, tentei carimbar a idéia de que sua interação com o mundo era também ampla e irrestrita. Baseei-me nas leituras de gibi de quando era garoto, e isso me manteve na proposta inicial de trabalhar dentro de um estilo cartoon.

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Transitando entre dois mundos

Cada original foi digitalizado em alta resolução, vetorizado com bastante precisão de nós e reduzido às dimensões da obra ao final (aproximadamente meio A4), garantindo a manutenção de todos os nuances do traço, inclusive os pequenos "defeitos" que caracterizam a produção 100% manual. Foram mantidos todos os pequenos detalhes do trato manual, como respingos de tinta ou marcas de esboço. Com o passar do tempo, acabei por adotar essa estética meio "clip-art" nos desenhos em PB que uso para ilustrações "cartoon", acho o resultado bem interessante por suavizar as linhas, enquanto mantém as características originais dos traçados.

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Finalizações

Escolhi por não fazer variações de sombras em tons de cinza nos desenhos, mantendo apenas algumas poucas hachuras de volume. A única arte colorida e sombreada foi a capa, pintada digitalmente.

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Gostei do resultado, mas se fosse fazer novamente, acho que escolheria um método manual, talvez aguada em aquarela com pincel de cerdas de porco, sobre papel pesadão e rústico. Um Montval cairia bem. Afinal, capa é capa, e merece.

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Para facilitar a diagramação, usei vários elementos geométricos em claro-escuro que permitem a ocupação integral de cada página. Os desenhos abrem os capítulos, sempre na página da esquerda, e complementam o impacto ou drama de certas ocasiões descritas nos textos. Confesso que inseri estes grafismos apenas como um recurso para verticalizar as pranchas após a produção, mas o resultado final ficou bom no contexto geral.

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E foi assim! Esse é o Mário Mico, apreciador de uma cerveja com os amigos, boa música e dono de um magnetismo natural pelas polarizações que a vida nos impõe. Tive um prazer imenso em retratar suas aventuras, ainda mais por ter sido criado por esse grande e talentoso amigo que é Fernando Mello. Estou certo de que o Mário tomará a viver em futuras edições, na mescla entre as letras do Fernando e minhas tintas, pois a vida desse nobre malandro é rica e não caberá em apenas um livro!


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